domingo, 28 de setembro de 2014

TEXTOS DA BÍBLIA DE DIFICIL INTERPRETAÇÃO PARTE IV



6º Colossenses 2:16 e 17 e Gálatas 4:10.

“Ninguém, pois, vos julgue por causa de comida e bebida, ou dia de festa, ou lua nova, ou sábados”. (Colossenses 2:16).

“Guardais dias, e meses, e tempos, e anos...”. (Gálatas 4:10)

Muitos sinceros cristãos têm lido este texto e ‘entendido’ que esta é uma forte evidência a favor da abolição do 4o mandamento – o descanso no sétimo dia. Ao analisarmos seu contexto e entendermos ‘a que tipo’ de sábado se refere, vermos que tal conclusão (abolição do sábado) não é apoiada pelas Escrituras.

Comentaristas Batistas, Metodistas, Presbiterianos e de outras denominações reconhecem que o Sábado mencionado nestas passagens não se refere ao descanso do Sétimo Dia, mas aos sábados “cerimoniais”. Veja o que diz Adam Clarke, erudito Metodista, em seu autorizado comentário:

“Não há aqui indicação de que o sábado fosse abolido, ou que sua obrigação moral fosse superada pelo estabelecimento do cristianismo. Demonstrei em outra parte que ‘Lembra-te do dia de sábado para o santificar’ – é um mandamento de obrigação perpétua, e nunca pode ser superado senão pela finalização do tempo”.

Albert Barnes, profundo comentador presbiteriano, em sua obra Notes on the Testament, comenta Colossenses 2:16, textualmente:

“Não há nenhuma evidência nessa passagem de que Paulo ensinasse que não havia mais obrigação de observar qualquer tempo sagrado, pois não há a mais leve razão para crer que ele quisesse ensinar que um dos Dez Mandamentos havia cessado de ser obrigatório á humanidade. Se ele tivesse escrito a palavra ‘O sábado’, no singular, então, certamente estaria claro que ele quisesse ensinar que aquele mandamento (o quarto) cessou de ser obrigatório, e que o sábado não mais deveria ser observado. Mas o uso do termo no plural, e a sua conexão, mostram que o apóstolo tinha em vista o grande número de dias que eram observados pelos hebreus como festivais, como uma parte de sua lei cerimonial e típica, e não a lei moral, ou os Dez Mandamentos. Nenhuma parte da lei moral – nenhum dos Dez Mandamentos – poderia ser referido como ‘sombra das coisas futuras’. Estes mandamentos são, pela natureza da lei moral, de obrigação perpétua e universal”.[13]

Podemos ver, portanto, palavra “Sábados” está no plural, indicando que se refere aos sábados cerimoniais.

O Sábado mencionado nesta passagem não se refere ao descanso do Sétimo Dia, mas aos sábados “cerimoniais”. A palavra “Sábado” está no plural, indicando que se refere aos sábados cerimoniais. Estes sábados eram guardados uma vez ao ano, quando o sacerdote fazia expiação pelos pecados do povo (ver Levíticos 16:29 a 31). Em Levíticos 23:38 Deus orienta ao povo para guardarem as festas fixas do Senhor “além dos sábados do Senhor”. Isto mostra que além dos sábados do Senhor tinham outras cerimônias, e entre elas este Sábado anual. 

Existem muitas provas de que na Bíblia são mencionados dois tipos de Sábados; mas creio que esta passagem da Bíblia será suficiente: Levíticos 23: 3 e 24,25.

“Seis dias trabalhareis, mas o sétimo será o sábado do descanso solene, santa convocação; nenhuma obra fareis; é sábado do SENHOR em todas as vossas moradas”. (verso 3).

“Fala aos filhos de Israel, dizendo: No mês sétimo, ao primeiro do mês, tereis descanso (esta é a tradução da Palavra “Sábado” – quer dizer “descanso”) solene, memorial, com sonidos de trombetas, santa convocação.  Nenhuma obra servil fareis, mas trareis oferta queimada ao SENHOR”. (verso 24 e 25).

Analise:

No verso 3 – Deus está falando do sábado “Semanal”, pois ele disse para trabalhar seis dias e descansar no sétimo.

Nos versos 24 e 25 –  Deus fala para eles guardarem um sábado “anual”, que era dia primeiro de todo o sétimo mês.

Este sábado anual sim foi abolido; não precisamos nos reunir uma vez por ano para celebrar esta festa que antecedia ao dia da expiação, pois Jesus já fez a expiação (cumpriu a pena) pelos nossos pecados na cruz.

O Sábado do 7o Dia, semanal, foi feito pelo criador para comemorarmos o ato Divino da Criação; não faz parte da lei cerimonial.

Em Atos 17:2 vemos que era “costume” de Paulo ir todos aos sábados á igreja, ou seja, ele era um cristão que seguia o exemplo de Jesus. No cap.16 verso 13 vemos que os cristãos, juntamente com Paulo “foram para perto de um rio no Sábado, pois conselho um lugar de oração”.

Atos 18:3 e 4 nos mostram que Paulo trabalhava em Corinto construindo tendas durante a semana, juntamente com Áquila e Priscila e todos os sábados ia à igreja. No verso 11 diz que ele permaneceu um ano e seis meses. Isto equivale à  72 Sábados guardados por Paulo só na cidade de Corinto!

Vejamos este outro comentário sobre o texto, feito pelo Doutor e Professor de Teologia Alberto R. Timm:

“A expressão ‘ninguém, pois, vos julgue por causa de comida e bebida, ou dia de festa, ou lua nova, ou sábados (grego sabbáton), encontrada neste texto, tem sido usada para provar que a observância do sábado foi invalidade por Cristo na cruz. Se, porém, analisarmos mais atentamente o seu conteúdo, veremos que também este não pode ser aplicado em relação com o descanso semanal.

O tipo de sábado que está sendo considerado é indicado pela frase “que são uma sombra das cousas vindouras (Col. 2:17). O sábado semanal é um memorial de um evento do início da história da terra (Gênesis 2:2 e 3; Êxodo 20:8-11; Patriarcas e Profetas, p. 31 e 32). Portanto, os “sábados”, que Paulo declara serem sombras que apontam para Cristo, não podem referir-se ao sábado semanal designado pelo quarto mandamento, mas devem indicar os dias de repouso cerimonial, que encontram seu cumprimento em Cristo e no seu reino (ver Levíticos 23:5-8, 15, 16, 21, 24, 26, 27, 28, 37 e 38).

Adam Clarke, conhecido comentarista Metodista, é claro em afirmar:

“...O sábado semanal se apoia numa base mais permanente, tendo sido instituído no Éden, para comemorar o término da criação em seis dias. Levítico 23:38 expressamente distingue ‘o sábado do Senhor’ dos outros sábados. Um preceito positivo é bom porque é ordenado e deixa de ser obrigatório quando ab-rogado; um preceito moral é mandato eterno, por ser eternamente justo”.

“O que foi dito anteriormente é suficiente para esclarecer que Paulo jamais pretendeu abolir, em Colossenses 2:16 e 17, a obrigatoriedade moral do quarto mandamento, que por ter sido instituído na criação (Gênesis 2:1-3) e fazer parte da lei moral (Êxodo 20:8-11), também é um mandamento ‘santo justo e bom’(Romanos 7:12)”.

O Sábado semanal o qual Jesus guardou (Lc 4:16) é uma bênção; neste dia podemos repousar de nossas atividades, adorar a Deus com maior intensidade e estar mais tempo com a família. Este sábado semanal não foi abolido, pois é um presente de Deus para nós.

A cada sábado na nova terra iremos adorar a Deus:

“E será que, de uma Festa da Lua Nova à outra e de um sábado a outro, virá toda a carne a adorar perante mim, diz o SENHOR”. (Isaías 66:23).

7º Gálatas 4:10.

“Guardais dias, e meses, e tempos, e anos.  Receio de vós tenha eu trabalhado em vão para convosco”. (Gálatas 4:10-11)

O livro de Gálatas jamais poderá ser usado como a favor da abolição da lei. Paulo, escrevendo o livro de gálatas, não está sendo contra a lei, mas sim contra um sistema religioso que colocava a lei como ponto de salvação. O livro trata da justificação pela fé em Jesus Cristo, em contraste com o conceito dos judaizantes de que a justificação vem por meio do cumprimento das obras prescritas no sistema judaico.

Apesar do objetivo da epístola de gálatas não ser o de ocupar-se na discussão das leis (morais e cerimoniais), pois trata do tema da justificação pela fé (Paulo está sendo contra uma forma de religião que crê na lei como um meio de salvação), o livro comenta algo acerca da circuncisão. Se você contar, verá que nos seis capítulos de gálatas a palavra “circuncisão” aparece mais de dez vezes.

E. Huxtable vê uma similaridade entre os “dias, e meses, e tempos, e anos” de Gálatas 4:10 e “dia de festa, ou lua nova, ou sábados” de Colossenses 2:16. Segundo ele, “as mesmas ideias são aparentemente apresentadas, mas em ordem inversa”

...Paulo está aqui se referindo “aos sete sábados cerimoniais e às luas novas do sistema cerimonial”[, e as mesmas considerações feitas sobre Colossenses 2:16 e 17 também se aplicam a este texto.

O Comentário Bíblico Adventista acrescenta ainda:

Não há base escriturística para assumir, como alguns o fazem, os “dias” dos quais Paulo fala aqui se refiram ao sábado do sétimo dia. Em nenhum lugar da Bíblia é feito referência ao sétimo dia na linguagem aqui usada. Além disso, o sábado do sétimo dia foi instituído na criação (Gên. 2:1-3; cf. Êxo. 20:8-11), antes da entrada do pecado, e cerca de 2500 anos antes da inauguração do sistema cerimonial, no monte Sinai. Se a observância do sábado do sétimo dia subjuga o homem à escravidão, então o próprio Criador deve ter entrado em escravidão, ao observar o primeiro sábado do mundo! E essa conclusão é inconcebível. [20]

Portanto segundo A.R. Fausset[21], este texto não apresenta “nada que seja incompatível com a observância do sábado”[22]

Quais eram os 7 Sábados Cerimoniais:

...Existem dois tipos específicos de sábados no Antigo Testamento, os sábados anuais e os sábados semanais. Paulo não deixa dúvidas sobre os quais está falando.

Os dias de descanso cerimoniais anuais, em conjunto com o festival de ciclo anual, não estavam relacionados aos sábados do sétimo dia ou ao ciclo semanal. Cada um desses outros sábados, ou dias de descanso, caíam numa data fixa do ano, e assim em dias diferentes da semana a cada ano. Assim, eram propriamente chamados sábados anuais, em contraste com os sábados semanais. Esses dias em que o trabalho era proibido “além dos sábados do Senhor” (Levíticos 23:38)

O Primeiro Dia dos Pães Asmos – 15º dia do 1º mês (Lev. 23:6);
O Sétimo Dia dos Pães Asmos – 21º dia do 1º mês (Lev. 23:8,11);
Dia de Pentecostes – 6º dia do 3º mês (Lev. 23:24;25);
Festa das Trombetas – 10º dia do 7º mês (Lev. 23:16,21);
Dia da Expiação – 10º dia do 7º mês (Lev. 23:29-31);
Primeiro Dia da Festa do Tabernáculos – 15º dia do 7º mês (Lev. 23:34;35);
Sétimo Dia da Festa dos Tabernáculos – 22º dia do 7º mês (Lev. 23:36).

Os sábados anuais eram parte do sistema cerimonial que representava a vida e a morte de Cristo, e cessou quando Ele expirou na cruz. Eram “sombras de coisas futuras”.

Em contraste com o sábado semanal, que foi ordenado a toda humanidade ao fim da semana da criação, os sábados anuais apontavam para a vinda do Messias. E a sua observância findou com Sua morte na cruz...

Poderíamos encerrar o assunto por aqui, mas como sempre há doutrinadores cavilosos que apelam para a filologia em torno da palavra “sábados” de Colossenses 2:16, necessário se faz uma ligeira consideração neste particular.

Em grego, “Sábados” do texto em lide é sabbata, uma forma plural de sabbaton. Embora sabbata em muitos casos não represente um exato plural, pelo fato de derivar da forma singular aramaica, por outro lado é de frequente sentido singular. A exploração que pretensos helenistas fazem em torno deste fato em nada altera a posição que sustentamos, porque sabbata, pode representar um plural exato, como por exemplo, em Atos 17:2 e sem dúvida em nosso texto (Colossenses 2:16) ainda reforçado com o peso do contexto indicando tratar-se de sábados anuais.

Há oponentes que exploram também o fato de a palavra “Sábados”, na passagem que estamos considerando, estar no grego sem o artigo, mas esquecem-se de que o sábado semanal é também frequentemente citado sem o artigo em grego, como, por exemplo, em S. João 5:9; 9:14 
Veja o quanto é importante o estudo do contexto do verso e também seu correto significado na língua original.

“Desvenda os meus olhos, para que eu contemple as maravilhas da tua lei”. (Salmos 119:18).

Deus lhe guarde,
Leandro Soares de Quadros.
Setor de Respostas Teológicas.

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